“Lentes da História” – A descoberta da fotografia de Alberto de Sampaio – expôs, no Instituto Tomie Ohtake, em 2015, as capturas do fotógrafo amador que retratou o dia a dia e a transformação urbana do Rio de Janeiro no início do século XX.
De olho no rico acervo, eu pensava em quanto o mundo avançou em um século. O bonde e pouquíssimos automóveis Fords transitando nas ruas em meio a homens de paletó e mulheres em vestidos longos.

Do outro lado do Atlântico, entre 1914 e 1918, a Europa enfrentou a Primeira Guerra Mundial. Nem bem escapou das trincheiras, sua população foi dizimada pela Gripe Espanhola até final de 1920. O continente devastado ressuscitou em estado de euforia, efervescência e inebriante boemia.
Paris atraiu milhares de europeus e americanos; transformou-se na cidade mais cosmopolita do mundo.

Na capital francesa, Gabrielle Chanel – Coco Chanel, para ser mais precisa – estabelecia um novo conceito de moda e vestuário, marcado pelo perfume nº 05. Se nos anos 70, a geração hippie queimou sutiãs (que permanecem em uso até hoje); nos anos 20, as mulheres aboliram definitivamente o espartilho e corselete. Cortaram o cabelo, arregaçaram as mangas e as saias, lutaram e ganharam o direito a voto.

Dadaísmo, Surrealismo e Cubismo surgiram para chocar o mundo da arte. Salvador Dalí, Marcel Duchamp, Pablo Picasso, René Magritte, André Breton, Max Ernst, Joan Miró, Marc Chagall, Amedeo Modigliani, Piet Mondrian, Henri Matisse, Constantin Brâncuși são alguns dos artistas que deixarão seus nomes e suas obras para história.



Os bairros de Montparnasse e Montmartre disputavam a hegemonia da arte, da intelectualidade e da boemia em seus cafés e cabarés. James Joyce, Henry Miller, F. Scott Fitzgerald e sua mulher Zelda, T.S. Eliot e Gertrude Stein (que os denominou de “geração perdida”) reunidos constantemente em festas e discussões filosóficas, que Ernest Hemingway tão bem retratou em “Paris é uma festa”.


A vanguarda do mundo em ebulição criativa.
Na América, a lei seca não impediu Nova Iorque de concorrer com Paris. Os Estados Unidos viviam um boom de investimentos. O rádio chegou para divulgar a Era do Jazz. O cinema mudo atraiu Charles Chaplin para Los Angeles. Os grandes estúdios cinematográficos criavam o cinema falado, projetavam artistas, e a fama ditava moda. Walt Disney se instalava em Hollywood e Mickey Mouse surgia em 1928.

Se nos Estados Unidos, o Jazz e o Blues enchiam as casas de espetáculo e o Charleston dominava os passos na pista de dança das melindrosas, em Paris as dançarinas do Cancã movimentavam os cabarés. Nova Iorque e Paris disputando o título de cidade mais audaciosa do mundo.
No Brasil, a Semana da Arte Moderna de 1922 reuniu Mario de Andrade, Oswald de Andrade, Di Cavalcanti e Tarsila do Amaral, propondo uma nova visão de arte, a partir de uma estética inovadora inspirada nas vanguardas europeias.

A euforia da década de 20 durou até a quebra da bolsa de Nova Iorque, em outubro de 1929. Foram anos de festas, glamour, ousadia, libertinagem, rebeldia, inovação, audácia, excessos, vanguarda. A ressaca culminou na Segunda Grande Guerra em 1939.
Quando a pandemia da Covid-19 passar, a loucura dos anos 20 irá se repetir no século XXI…?
Clique aqui e assista ao documentário, em espanhol, com imagens e filmes do início do Século XX em Paris: “Paris, los Locos anõs 20″.
Livros dessa época:
Ernest Hemingway – Paris é uma festa (1964)
James Joyce – Ulisses (1921)
F. Scott Fitzgerald – O grande Gatsby (1925)
Trailers de filmes sobre a época:
Acesse também: Tarsila Popular, Frida Kahlo e Chaplin em Vevey.