A surpreendente arquitetura de Roterdã

As cinco mulheres aportaram em Roterdã cheias de interrogações sobre a cidade. Vinham de Amsterdã, onde tudo é mais conhecido e o turismo predomina na Holanda. Será uma cidade estritamente portuária?

A primeira surpresa foi o hotel escolhido. Na reserva, não aparecia a opção de café da manhã. No check-in, a simpática recepcionista explicou o sistema de The James Hotel, inaugurado não fazia seis meses em maio de 2019: no segundo andar, estava disponível um self-service food market 24h.

Melhor explicando. Cada hóspede servia-se à vontade nas gôndolas, máquinas de chá e café, frutas e pães à escolha. Com os itens na bandeja, bastava dirigir-se ao totem instalado sem qualquer vigilância pessoal, apenas uma câmera de vídeo, registrar o código de barra do produto e efetuar o pagamento em cartão. Coisas da tecnologia associada à honestidade. Imagine esse sistema aqui no Brasil!

Devidamente acomodadas no hotel descolado e supermoderno, localizado no coração da cidade, saímos para uma caminhada exploratória que aqueceu a alma no frio da primavera holandesa e encantou o olhar.

O horário do almoço aproximava-se e o primeiro destino era o Markethal Rotterdam. Inaugurado em 2014, o mercado municipal é um espaço gastronômico com comidas do mundo inteiro, além das tradicionais holandesas, como os queijos e o delicioso Stroopwafel. O edifício, marcado pela modernidade, ainda abriga 200 apartamentos em seu grande arco.

Markethal Roterdã
Teto do Markethal

O teto interno é uma obra de arte denominada Hoorn des Overvloeds de Iris Roskam e Arno Coenen, uma referência a Cornucópia da mitologia grega, com imagens de frutas, vegetais, grãos, doces, peixes, flores e insetos.

Bem perto do Markethal, estão Blaaktoren – o edifício em formato de lápis –  e as famosas Casas Cubos (Kubuswoning), do arquiteto Piet Blom, de formato inusitado, voltadas para habitação. Surgiu logo um questionamento de como seria por dentro, provavelmente muitos cantos e quinas difíceis de acomodar móveis e ambientar.

Casas Cubos – Roterdã
Blaaktoren – Roterdã

À medida que percorríamos as ruas de Roterdã, novos ângulos surgiam. O visitante anda olhando para cima, descobrindo fachadas, balanços, formas e figuras geométricas habitáveis. O olhar da arquiteta do grupo inebriado de tantas informações.

O mais surpreendente é que Roterdã foi intensamente bombardeada, incendiada e devastada pelos alemães em 14 de maio de 1940, durante a Segunda Guerra Mundial.

Os escombros dos bombardeios foram usados para conter as águas em barragens, tendo em vista que a cidade está abaixo do nível do mar. Em 28 de maio de 1946, a Câmara Municipal aprovou o Plano Básico de Cornelis van Traa, para reconstrução de Roterdã.

Entre 1995 e 1970, o mundo atravessou uma fase de modernismo extremo de cores e formas, que personalizou a moda “anos 60” com edifícios loucos, futuristas e cubistas. Em Roterdã, arquitetos tiveram espaço e estímulo para criatividade. Apenas os prédios dos Correios, Prefeitura e Igreja foram restaurados.

A partir de 1974, o Conselho Municipal decidiu dar uma nova roupagem à cidade que abriga o maior porto da Europa. A nova geração fazendo ressurgi-la com uma arquitetura moderna, arrojada, original e criativa.

Roterdã e sua surpreendente arquitetura

Ao cruzar a ponte Erasmusbrug, chega-se à área revitalizada de docas Kop van Zuid, com suas construções contemporâneas, destacando-se as torres De Rotterdam interconectadas e a KPN Tower projetada por Renzo Piano. Cada edifício com uma linguagem própria e contemporânea.

Retornamos ao centro até a Estação Central e mais um edifício de arquitetura surpreendente para ser apreciado. No seu entorno, várias construções, nunca repetitivas.

Estação Central – Roterdã

Como todo turista carece de tempo, tivemos que optar entre uma visita a Delfshaven – o bairro praticamente preservado dos bombardeios, onde os edifícios cheios de personalidade anteriores à guerra contrastam nitidamente com a incrível arquitetura moderna de Roterdã – ou uma visita a Delft.

Decidimos fazer um bate-volta até Delft, uma cidade pitoresca e encantadora, distante apenas 15km de Roterdã, facilmente alcançada de trem ou mesmo de Uber, que mantém a arquitetura tradicional holandesa. Dois universos de um mesmo país, que soube muito bem ressurgir das cinzas.

Delft – Holanda

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Caro Emerald (cantora holandesa) – A Night Like This (Official Video)

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