Banho de mar

De repente, fez-se tarde de um domingo branco, preguiçoso. Cansado de rebater o sopro constante vindo da terra, o mar serenou. Os barcos ancorados naquele porto-mirim denunciavam a posição invertida do vento. Não era brisa marinha, era o nordeste anunciando o inverno em terras sedentas.

A paisagem era convidativa. Impossível resistir àquela piscina infinita. O sol encoberto não refletia o azul marinho, mas a água translúcida permitia ver todo o corpo mergulhado no grande espelho natural.

O tempo parara. O mar silenciara. Nem preamar, nem baixa-mar, ponto de equilíbrio. As criaturas marinhas, adormecidas, deixaram que os banhistas usassem e abusassem da sua morada. À vontade, mergulharam, nadaram, deslizaram sobre as águas, flutuaram, sorriram. Regozijaram-se com a mãe natureza.

A paisagem destoava de um dia de verão. Novos tons não menos belos. Nada de sol brilhando e azul-celeste. Nuvens brancas, cinzas, prateadas, azuladas.

Vista do mar, uma terra paradisíaca. Por trás das casas e coqueirais, pesadas torres encobrindo o pôr do sol. Era a chuva no Sertão. Caindo pesada, vigorosa, saudosa, fecunda, saciando uma sede insaciável.

O mar emprestara suas forças à mãe-terra, enquanto serenava em suas praias. Melhor deixá-lo em paz, antes do cair da noite. Levar comigo a lembrança de um banho de mar sem igual, de um momento divino. Descobrir que a felicidade está ali, simples, bela e, às vezes, atingível.

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5 comments

  1. Texto maravilhoso! Esses barcos ancorados de modo invertido era motivo de alegria kkkk

  2. Elzinha, já compartilhei no meu FB sua crônica ‘BANHO DE MAR’. Excelente!

    1. Muito obrigada minha xará. Faça os textos percorrerem o mundo!

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