A crônica “Aboiando” faz parte do livro Sertão, Seridó, Sentidos. O terceiro domingo do mês de julho foi escolhido como o “Dia do Vaqueiro Nordestino”. Compartilho com você leitor a minha homenagem a essa figura tão importante da cultura do Nordeste. O vaqueiro veste orgulhoso a perneira marcada pelos estribos e passa as correias do guarda-peito pelo pescoço. Do lado de fora da casa, calça as esporas e dirigi-se ao […]
Permanente robustez
O mês de julho é bastante significativo para o seridoense, que não o conhece pelo nome, mas como mês de Santana. Para mim, era sempre a época de aproveitar a festa de Santana e percorrer as terras dos meus antepassados, marcadas pela robustez das pedras que sedimentam a devoção ao Seridó. Este ano, por causa da pandemia, as festas religiosas e pagãs estão suspensas. Para marcar esse momento, relembro a […]
Andorinhões errantes
Essa crônica está publicada no livro Sertão, Seridó, Sentidos. Em tempo de isolamento social, sinto vontade de ser um andorinhão, percorrer o mundo sem destino, apenas voando. Embebida pela curiosidade e pelo desafio, topo a escalada. No início, sigo seu passo firme sem muita dificuldade. À medida que a subida toma forma, o coração acelera, fazendo ecoar um batido forte, ritmado. Um tanto preocupada, diminuo a velocidade e me concentro […]
No Rastro das Águas – Apresentação e link para primeiro capítulo
PREFÁCIO Diógenes da Cunha Lima Mais que história pessoal, familiar, biográfica, é este um livro etnográfico, reconstitui práticas de uma das regiões culturalmente mais ricas do país. O Seridó é uma civilização solidária. As características comuns da sociedade seridoense, em seu conjunto, tornam o seu povo único. Os fenômenos sociais religiosos (Santana, a Padroeira maior), os fenômenos estéticos (as belas moradias, cores, flores e animais saídos das mãos das artistas […]
No Rastro das Águas – Capítulos 70 e 71
(…) O dia findava-se nas horas tristes do pôr-do-sol, quando o crepúsculo encobria a beleza infinita do mar, fazendo surgir a escuridão, aplacada pela beleza da lua sobressaindo às estrelas. José Bezerra não gostava daquela hora; sua alegria era estar em contato com a água, fosse na correnteza dos rios cheios dos invernos sertanejos ou nos deliciosos banhos nas sangrias, fosse ante a ilusão de dispor da imensidão do oceano. […]
No Rastro das Águas – Capítulos 68 e 69
(…) Lá embaixo, a música começou a tocar. A casa do casal José Bezerra e Yvete estava toda preparada para receber os familiares e amigos de meio século. Era a última grande festa que eles patrocinariam na avenida Hermes da Fonseca, antes da troca de endereço. Os convidados já deveriam estar chegando, eles não se importaram. Inebriados no clima de cumplicidade, prolongaram os momentos tantas vezes compartilhados na intimidade daquelas […]
No Rastro das Águas – Capítulos 66 e 67
(…) O Brasil reza pelo restabelecimento de seu Presidente, mas sua saúde não resiste e ele vem a falecer. Emocionado, o povo vai dar seu último adeus. A eleição de Tancredo, ex-Ministro de Getúlio Vargas e ex-Primeiro Ministro do Brasil, representou o fim da ditadura e dos anos de opressão; a despedida dos brasileiros foi um gesto de decepção e desalento. Decepção, por não verem aquele que tanto lutara pela […]
No Rastro das Águas – Capítulos 64 e 65
(…) Mas chegou o dia do retorno a Natal. Os carros deveriam passar a qualquer custo pelo rio. Foi montada uma verdadeira operação de guerra, com os poucos recursos existentes. A profundidade nem era tanta, mas a correnteza estava forte. Juntaram os homens da fazenda, trouxeram cordas e deram início à travessia. Um a um, os carros foram atravessando, molhando os distribuidores, engasgando afogados. As crianças foram atravessadas de charrete […]