Centenário da Semana de Arte Moderna

Enquanto o país preparava os festejos do centenário da Independência, bebericando café com leite em sua política, um grupo de intelectuais movimentava a capital paulista para a Semana de Arte Moderna de 1922.

O mecenas Paulo Prado viabiliza o aluguel do Theatro, o romancista Graça Aranha (recém-chegado da Europa) adere e fortalece o movimento dos modernistas revolucionários, idealizado por Menotti Del Picchia, Mario de Andrade, Oswald de Andrade e Anita Malfatti.

Entre os dias 13 e 17 de fevereiro, o Theatro Municipal de São Paulo torna-se palco de um manifesto coletivo artístico-cultural, reunindo diversas apresentações de dança, música, recital de poesias, exposição de obras – pintura e escultura – e palestras.

Mas, afinal, por que a Semana de Arte Moderna de 1922 até hoje é tão festejada?

A ideia do manifesto veio para sacudir a cultura e a arte do início do Século XX. Uma ruptura com o conservadorismo vigente na produção literária, musical e visual. O primeiro passo para uma nova ordem em que deve prevalecer a liberdade de expressão e o fim das regras nas artes, com a valorização do nativismo, voltado às raízes da cultura popular brasileira.

Entre os principais participantes da Semana de Arte Moderna de 1922 estavam – além dos seus mentores – Di Cavalcanti, Ferrignac, John Graz, Vicente do Rego Monteirotti Del Picchia, Victor Brecheret, Heitor Villa-Lobos (apresentou-se com um pé calçado com chinelo por causa de calo inflamado), Manuel Bandeira, através do poema “Os Sapos” (declamado por Ronald de Carvalho), e Mario de Andrade com a leitura de alguns poemas de “Paulicéia Desvairada”.

Capa do Catálogo da Semana de Arte Moderna de 1922 | Autoria de Di Cavalcanti

Entretanto, a ruptura com a “importação” da arte europeia merece uma ressalva. Na verdade, os modernistas estavam acompanhando a nova onda no continente europeu, que recebia com olhares atravessados os movimentos do Futurismo e Cubismo, e temperando a nova estética com pitadas da cultura nacional.

Afinal, Anita Malfatti tinha estudado na Alemanha em 1910 e nos Estados Unidos em 1915, Oswald fora bastante influenciado pelo tour que fizera à Europa em 1912, e Mario de Andrade fazia viagens pelo Brasil, coletando material que discutia com um grupo de jovens artistas e escritores de São Paulo, que, como ele, conheciam o crescente movimento modernista na Europa.

Nunca é demais lembrar que os anos 20 são considerados os “loucos anos” na Europa e nos Estados Unidos, tendo Paris e Nova Iorque como epicentros. As transformações europeias não tardariam a chegar ao território nacional.

Por fim, a Semana da Arte Moderna dá o ponta pé inicial no campo das artes, para a introdução dos anseios de uma sociedade da eletricidade, da máquina e da velocidade.

Em poucos anos, as mulheres aboliam definitivamente o espartilho e corselete; o voto feminino era instituído no Brasil; Getúlio Vargas daria fim à política do café com leite; o modernismo estabelecia-se em definitivo, tendo Tarsila do Amaral como uma das principais representantes femininas do movimento antropofágico. A arte se entrelaçando e fazendo brotar uma nova realidade.

Di Cavalcanti – Pierrete (1922)

Mário de Andrade

INSPIRAÇÃO

São Paulo! comoção de minha vida…
Os meus amores são flores feitas de original…
Arlequinal!…Traje de losangos…Cinza e ouro…
Luz e bruma…Forno e inverno morno…
Elegâncias sutis sem escândalos, sem ciúmes…
Perfume de Paris…Arys!
Bofetadas líricas no Trianon…Algodoal!…
São Paulo! comoção de minha vida…
Galicismo a berrar nos desertos da América!

Capa do programa da Semana de Arte Moderna de 1922 | Autoria de Di Cavalcanti
Theatro Municipal de São Paulo – foto do acervo do Theatro

Leia também: Tarsila Popular, A loucura dos anos 20 irá se repetir?, A arte se entrelaçando e fazendo brotar uma nova realidade.

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