Foto capturada no site do Château de Chenonceau, autoria de Marc Janeaud
Que tal misturar história e mulheres fortes, reuni-las em torno de um castelo e tecer uma crônica?
A tradução da palavra “Chenonceau”, que poderia ser uma casa de campo, virou referência na França e, por que não dizer, na história feminina?

O Château de Chenonceau, construído literalmente sobre o Rio Cher, no Vale do Loire, foi destinado inicialmente a um moinho, passou por uma fortaleza, até ser adquirido por Thomas Bohier – político e tenente-general no reinado de Francisco I – que decidiu construir um castelo renascentista.

Foi sua esposa, Catherine Briçonnet, que se encarregou de supervisionar a construção entre 1513 e 1521, tomando diversas decisões arquitetônicas, enquanto seu marido lutava nas guerras italianas. Catherine tornou-se referência como uma das primeiras mulheres arquitetas.
Em 1535, o castelo foi tomado pela Coroa como quitação de dívidas, ainda no reinado de Francisco I. Mas foi Henrique II, seu filho e sucessor, que o presenteou à amante, Diane de Poitiers, vinte anos mais velha que ele.

Diane de Poitiers teve forte influência política junto a Henrique II. Em Chenonceau, ela construiu um magnífico jardim, um pomar de amoreiras e iniciou uma criação de bichos-da-seda. Logo o castelo transformou-se em uma empresa de fabricação da seda utilizada nos vestidos da favorita do Rei.
Por arranjo político, em 1533, Henrique II casou com Catarina de Médici. Ela tinha apenas 14 anos e passou 10 anos sem dar filhos ao rei, este totalmente dedicado à favorita. Dizem que foi a própria Diane que orientou a rainha na arte da sedução para cumprir o seu papel e dar herdeiros ao trono. A lição deu certo e nasceram 10 filhos.
Com a morte de Henrique II em 1559 – fato esse incluído nas previsões metafóricas de Nostradamus – a rainha Catarina de Médici depôs Diane de Poitiers e instalou a autoridade do jovem rei, seu filho, em Chenonceau, em meio à pompa e esplendor italiano. Entre as festividades que realizou aqui, ela administrou o Reino da França a partir de seu escritório, o Gabinete Verde.

De rainha consorte relegada, a viúva Catarina de Médici passou a ser uma das mulheres mais poderosas do seu tempo. De forte caráter, pragmática, ao mesmo tempo de cultura e inteligência refinada, ela admirava a arquitetura. Aumentou a grandeza da monarquia Valois através de uma série de dispendiosos projetos de construção, nos quais estava intimamente envolvida no planejamento e supervisão de todos os seus esquemas arquitetônicos.
No século 18, depois que o castelo foi comprado por seu marido, foi Louise Dupin ou Madame Dupin, senhora do Iluminismo, quem deu as boas-vindas a Chenonceau aos maiores estudiosos, filósofos e acadêmicos da França em seu famoso salão literário. Essa mulher excepcional foi a primeira a redigir um Código dos Direitos da Mulher, com a ajuda de seu secretário, que era ninguém menos que o filósofo Jean-Jacques Rousseau.

Finalmente, no século 19, o Château foi o palco do sucesso de Madame Pelouze, nascida Margaret Wilson, encarregada de restaurá-lo completamente. Entretanto, os gastos com o castelo a levaram à falência.
Henri Menier comprou o château do Crédit Foncier em 1913. Com sua morte, seu irmão Gaston transformou Chenonceau em um hospital militar durante a Primeira Guerra Mundial, que ficou sob a direção de sua nora, Simonne Menier, que administrava o hospital, cuidava de feridos e colaborava ativamente com os médicos e cirurgiões no local, em papel ativo de mulher do Século XX.


O Château de Chenonceau – o segundo castelo mais visitado da França – foi construído por Catherine Briçonnet, enriquecido por Diane de Poitiers e ampliado por Catarina de Médicis. Tornou-se um local de contemplação com a rainha Louise de Lorena, depois foi salvo por Louise Dupin durante a Revolução Francesa e, finalmente, metamorfoseado por Madame Pelouze.
Hoje é também conhecido como o Castelo das Damas. Sua história está entranhada de mulheres fortes e importantes que o construíram, embelezaram, protegeram, restauraram, salvaram…

Em 2020, a Maison Chanel escolheu o Château de Chenonceau para sua passarela. Uma referência a Coco Chanel, sua fundadora e mulher não menos forte, que construiu um império da moda.
A Galeria por onde transitavam rainhas, que acolheu feridos da Grande Guerra e hoje recebe visitantes do mundo inteiro, virou palco de desfile da grife de luxo.
Confira aqui o desfile Chanel 2020/21:
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