Descobrindo o Cânion do Macapá

O gosto por desbravar lugares entocados foi atiçado pelo meu avô paterno, quando enchia a carroceria da camionete com os netos à procura de aventura, especialmente se tivesse água correndo – paixão pelo líquido intermitente nas quebradas do sertão.

O tempo passou e a vontade de conhecer novos lugares nunca esmaeceu. Outro dia, ouvimos falar de um cânion em sites de trilhas ecológicas e feeds de Instagram. Pesquisas em mapas de aplicativos e logo tínhamos uma ideia da localização. Macapá que não é no Amapá, mas no estado da Paraíba, nos arredores da cidade de Araruna.

Em pleno sábado, dia de feira na cidade, com todo seu rebuliço, resolvemos fazer algo diferente e arriscar uma caça ao tesouro. Sem as coordenadas geográficas, apelamos para o velho ditado de “quem tem boca vai a Roma”.

O melhor lugar para saber alguma informação em cidade de interior é no ponto do mototáxi. Alguém conhece o Cânion do Macapá? Cabeças acenaram negativamente, até que um mais esperto disse que ouvira falar de uma cachoeira lá para as bandas da fazenda de não sei o nome.

Ajustamos a corrida e ele nos prometeu levar bem próximo ao destino, o resto seria por nossa conta. Seguimos pelas estradas de barro até a fazenda indicada. Fomos recebidos por dois sujeitos, que pareciam triscados por água que passarinho não bebe. Uma conversa ligeira e logo estávamos a caminho do cânion ainda não tão famoso.

Seguimos a moto, com o motorista titubeando no equilíbrio afetado por uma garupa que não ajudava e a terra molhada de maio, mês de sertão encharcado quando as águas resolvem desabar.

Desvia uma poça aqui, cai em outra ali, o motoqueiro precisou fazer peripécias para chegar até uma casa isolada. Ô de casa… Um Senhor apareceu e tornou-se o guia da aventura. Dessa vez com domínio de causa. Estava acostumado a levar o pessoal até onde o rio Salgadinho desaba do imenso paredão de rocha.

Caminhando com ares de curiosidade, passamos por baixo de uma cerca de arame e descemos no sentido do rio. A vereda desapareceu ao toparmos com o riacho correndo lentamente. Para continuar, só molhando os pés.

O riacho alargou-se no pensamento, virou um ribeirão de lembranças. O contato com a água me levou de volta ao caminho da infância, atolando na lama da entrada do açude, tirando água de cuia da canoa, tomando banho inesperado de roupa nos riachos da fazenda Ingá, lavando os cabelos na sangria da barragem Cacimba do Meio – pura felicidade.

Caminho para o Cânion do Macapá
Caminho para o Cânion do Macapá

Com cuidado nos celulares e no drone para registrar a aventura, ultrapassamos os obstáculos das pedras submersas e escorregadias e chegamos ao topo da cachoeira deslumbrados com sua beleza. Em razão do adiantado da hora – quase metade do dia – preferimos deixar o banho na queda d’água para outra oportunidade.

Infelizmente o drone não funcionou. Até levantou voo, fez algumas fotos, mas alguma coisa não o deixava retornar ao ponto de partida; algo do tipo interferência geomagnética. Os cliques vieram dos celulares, com todo o cuidado para evitar um deslize de proporções trágicas.

O magnetismo do lugar atrai pela beleza e rusticidade. O Cânion do Macapá está registrado como uma das atrações imperdíveis da cidade de Araruna/PB. Um desfiladeiro formado há milhares de anos. Do alto de um mirante tem-se a vista de toda a serra e dos imensos paredões de rocha que escondem entradas de grutas, cavernas e registros de homens pré-históricos. Para chegar até lá, é recomendado contratar um guia especializado.

Cânion do Macapá
Cânion do Macapá

Essa é uma excelente opção de passeio para quem gosta da vida ao ar livre com uma pitada de aventura, especialmente agora que o turismo regional promete ser retomado com bastante vigor.


Jessier Quirino

Endereço de Matuto
 
Daqui até lá em casa? No Sítio Caga-Chapéu?
Dá um bocado de légua
Mas não é leguinha besta, nem légua de beiço não.
É légua macha, abafada
Dessas légua macriada, medida a rabo de cão.
 
Você saindo daqui, nem querendo você erra
No oitáo do cemitério pega a viela de terra
Desce em Toim Farinheiro
Passa a água brancacenta de Zefinha Lavadeira
Daí pra frente é estrada…
 
Depois da reta pegada
Avista o esbarro d’água do pai de Mane Maior
Avista o tamarineiro
Morado e sombreado de Seu Zé Vacinador
Quando chega nas quebrada do Raso do
Macaíba
Pega um mato embamburrado
Que o cabra morre e não chega
No Lajedo da Formiga.
 
Avistando um pé de pau com parecença de ipê
Aí o cumpade vê uma pista arreganhada
Prontinha se oferecendo pró cabra que aparecer,
 
Mas aí você não quera…
Diz: Essa não apriceio!!!
Pega a trilha carroçave
Com duas baixa dos lado e cabeleira no meio.
 
Bem dizer já tamo dentro da Avenida do Capim
Toca em riba da babugem coberta de pisadura
E tome rédea esticada do começo até o fim.
 
É estrada festejada por cerca de todo tipo:
É cerca de enchimento, de vara e de pau-a-pique
De lance, de avelós, de pedra, cama-no-chão
Trançada e pedra dobrada, aramada e travessão. |
 
E abre e fecha porteira
Porteira de pau-em-pé, de mourâo, de pau corrido
De colchete e zigue-zague
E o cabra ali no mondé!…
 
Se chegar numa porteira lambuzada de azul
Aí o cumpade errou…
Volte dez braça pra trás e quebre o braço direito
Onde começa Amargosa, as terra do meu avô.
 
Quando der numa caieira de pretura acarvonada
Pega a subida abusada do Serrote do Mói-Mói
É trecho pau-com-formiga
É ladeira enladeirada
Se o cabra sobe fumando
Cai cinza dentro do zói.
 
Bem dizer não chega em riba
Pega a gangorra descendo.
 
Da ribanceira pra baixo
É Sítio Caga-Chapéu
Avistando o mundaréu
Dali você tá me vendo.
 
Vê gado e capim-mimoso
Em estado de baixio
Em estado de balaio
Laranja, manga e limão
Pé de jaca jaquejando
E caju de vez em quando
Cajuindo pelo chão.
 
NÃo dá um pulo de grilo
Pra chegar no meu terreiro
É rudiar o açude
Que o cabôco morre em cima
O cabra logo se anima
Na sombra do juazeiro.
 
É uma casinha alpendrada
Com cinco bico de luz
O cachorro é Bero-Waite
Mas abana logo o rabo
Pra Nego-Véi e Cuscuz.

Acesse também: Macambira e cajás, Alma renovada, Fazenda em festa e Ufa, cheguei em casa.

Leia também

7 comments

  1. Lugar lindo. Quanto tempo demora para completar essa trilha? Do ponto onde o carro nos deixa até a volta em média anda quanto tempo? Preciso ver se dá tempo de uma cansadinha com a pedra da Boca

    1. Boa tarde Cícero. O ideal para fazer a trilha e ver o Canion com água depois da chuva. Acho prudente ir com um guia especializado.

      Vou enviar contato para seu e-mail.

  2. Essas fotografias deixa qualquer geólogo com inveja.

    1. Adoro pedras, deve ser alguma coisa de herança indígena, kkkk

  3. O sertão nordestino merece ser melhor conhecido. Possui paisagens belíssimas. E, pegando uma carona no assunto da crônica, todo brasileiro deveria conhecer os “cânions do São Francisco”, entre Canindé do São Francisco e Piranhas, respectivamente, Sergipe e Alagoas. O passeio de Catamarã e o banho nas águas do “Velho Chico” são imperdíveis.

    1. Esse mundão sertanejo tem muita paisagem que merece ser vista, divulgada e apreciada!

      Visitei Piranhas o ano passado e voltei encantada com a região. Rendeu até a crônica “Alma renovada”.

      Felizes somos nós que apreciamos essas belezas naturais. Grande abraço!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *