Haia (Den Haag) e seus encantos

Falando sobre viagem, Quintana enaltece as janelinhas dos trens, que vão tirando sucessivos cartões postais da paisagem. Mas, para quem quer ir um pouco mais longe e descobrir o mundo, tem que abdicar do trem e utilizar o avião, ou, quem sabe, vestir-se de coragem e navegar a Terra, que deveria se chamar Planeta Água.

Há dois anos atrás, visitei a Holanda com meu marido. Entramos por Amsterdam, passamos por Utrecht e terminamos nossa viagem em Haia (Den Haag, para os holandeses). Várias janelinhas se abrindo e eu registrando nossos cartões postais no celular.

Em Haia, ficamos hospedados no Residenz Stadslogement. Na realidade, como o próprio nome diz, aquele estabelecimento no número 35 da Rua Sweelinckplein está mais para residência do que para hotel. Numa típica construção holandesa – são apenas quatro suítes e dois apartamentos – a acomodação une o conforto de um hotel, nos cômodos amplos e extremamente bem equipados, com a acolhida pessoal de Petra e Frank, que moram no local.

O único inconveniente é a escada estreita de acesso aos dois andares do imóvel. Em compensação, os proprietários fazem o seu café da manhã e dão as melhores dicas da cidade.

Haia – Holanda

Com um mapa físico sobre a mesa, Frank nos apresentou Haia, conhecida mundialmente por abrigar o Tribunal Internacional de Justiça, e indicou duas atrações imperdíveis: o Mesdag Panorama e uma visita a The Hague Race Village, montada para receber a etapa final da Volvo Ocean Race, considerado um dos maiores eventos da vela oceânica mundial.

A obra do pintor holandês Hendrik Willem Mesdag foi finalizada em 1881 com a ajuda de sua mulher, Sientje Mesdag-van Houten, e alguns estudantes de pintura. O Panorama Mesdag impressiona não só pela técnica, mas também pela apresentação. O Museu montou a obra de forma a ser observada num mirante, oferecendo uma vista de 360º do mar, das dunas e da vila de pescadores de Scheveningen, como ela era no século XIX, através da pintura cilíndrica com mais de 14 metros de altura e 120 metros de circunferência.

Panorama Mesdag

Visitamos o Panorama Mesdag, passeamos pela cidade, tomamos um ônibus e fomos até a praia de Scheveningen. Um almoço rápido e estávamos prontos para visitar a Race Village, no dia especial para criançada. Entramos na fila bem organizada e cheia de olhinhos brilhando de expectativa para mergulharem no mundo oceânico.

A Volvo Ocean Race acontece desde 1973. A edição de 2017-18 percorreu 45.000 milhas náuticas ao redor do mundo, em quatro oceanos, tocando seis continentes e 12 cidades-sede históricas (Alicante, Lisboa, Cape Town, Melbourne, Hong Kong, Guangzhou, Auckland, Itajaí, Newport, Cardiff, Gothenburg e Haia).

A competição é frequentemente descrita como o evento esportivo profissional mais longo e mais difícil do mundo. O conceito da regata é simples: uma busca ininterrupta da vantagem competitiva e da maratona oceânica, colocando os melhores velejadores do esporte, uns contra os outros, nas águas mais difíceis do mundo.

Entre 2017-18, sete times disputaram a competição, vencida pela equipe chinesa Dongfeng Race Team, liderada pelo capitão francês Charles Caudrelier. As onze “pernas” da regata duraram nove meses, partindo dia 22/10/2017 de Alicante/Espanha e chegando dia 24/06/2018 em Haia/Holanda. A regata já tinha sido finalizada há três dias e alguns barcos permaneciam ancorados, mas a visita à Vila era um show à parte.

Na Vila os fãs podiam andar entre as bases das equipes para aprender sobre os capitães, equipes e patrocinadores, com o térreo aberto ao público, permitindo que os fãs observassem o trabalho do dia a dia.

The Globe – The Hague Race Village

A preocupação com o meio ambiente estava presente e o Globo – uma grande cúpula que serve como Centro de Sustentabilidade – era o local para levar alguns minutos e descobrir mais sobre o crescente problema da poluição por plásticos e a necessidade de agir agora.

Havia também um simulador que reproduzia os movimentos dos barcos e as dificuldades enfrentadas pelos competidores. A Marinha Real Holandesa presente, compartilhando seu treinamento com os visitantes. Mais adiante, deparei-me com uma aula teórica e prática para velejar o Optimist.

Aula de Optimist em The Hague Race Village

Voltei no tempo da minha infância e lembrei do barco Optimist que papai comprou para eu e Tonico aprendermos a velejar e tomar gosto pelo mar. Levamos o barco para fazenda Cacimba do Meio. Nunca fui boa com velas e vento, consegui velejar até o meio da barragem, mas não soube dar o bordo e retornar para margem. Mas a criançada holandesa recebe o aprendizado desde muito cedo e confirma que serão grandes velejadores.

Continuamos percorrendo a Vila, admirados com a organização, a educação para sustentabilidade, o culto ao esporte, o respeito ao mar e ao meio ambiente. O que mais me encantou? O engajamento e o brilho no olhar das crianças ao descobrirem a forma pacífica e respeitosa de utilizar o Planeta Água.

Enquanto os Países Baixos têm um litoral de 450km, o Brasil tem 8.500km de costa, mas nossas crianças aprendem a rebolar ao som de músicas de qualidade duvidosa, quando deveriam navegar em um oceano de educação para abrirem várias janelas!


The Volvo Ocean Race 2017-18 in 720 seconds | Volvo Ocean Race

Acesse também: Cinco mulheres e uma viagem, Alma renovada, Encarando as ondas de Nazaré e Turismo em posts.

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2 comments

  1. Muito bom seu senso crítico.

    Enquanto os Países Baixos têm um litoral de 450km, o Brasil tem 8.500km de costa, mas nossas crianças aprendem a rebolar ao som de músicas de qualidade duvidosa, quando deveriam navegar em um oceano de educação para abrirem várias janelas!

    1. O problema do Brasil continua sendo a educação, em casa ou na escola.

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