Não basta ser pai, tem que participar

Cresci com papai dizendo que dia dos pais é bobagem, coisa do comércio para ganhar dinheiro. Casei com um comerciante, que repete a mesma ladainha. Dois homens na minha vida que não ligam para datas comemorativas. Terminei incorporando essa ideia.

Ontem recebi um vídeo onde Marcos Piangers fala sobre “O Poder do Eu Te Amo” para divulgar o seu livro. Para quem não sabe, ele é cronista de TV, palestrante e autor de livros sobre paternidade de enorme sucesso. Numa linguagem simples, ele aborda como deve ser o pai moderno, o papai pop.

No vídeo, me chamou a atenção o relato do palestrante sobre a dificuldade e o constrangimento de seu sogro em falar “eu te amo” para os filhos. Esse questionamento ocorreu uma vez lá em casa. Veio do meu irmão mais velho, mas meu pai respondeu que essa expressão era desnecessária, boba ou qualquer coisa que não fez parte de sua educação e continuou renitente em seu silêncio.

Se pararmos para pensar, cada geração tem a sua forma de expressar o amor de pai para os filhos. Meu pai foi criado numa época em que cabia ao seu pai prover a casa com recursos materiais, disciplina, respeito e boa educação. Carinho e demonstração de afetividade eram pouco usuais.

Ele educou seus filhos com disciplina e replicou a forma recebida. Beijos e abraços não fazem parte do seu feitio. O abraço dele foi me colocar no colo e me ensinar a dirigir muito cedo nas estradas da fazenda. Aprendi a montar a cavalo também no seu colo, bem juntinho. Percorria a fazenda com ele me dando lições sobre a terra e seu aproveitamento.

Nessas andanças, ficavam o aprendizado e as demonstrações de carinho. Percorrendo a fazenda, ao nos depararmos com as porteiras e colchetes, era eu que descia para abri-los. Ele ficava dentro do carro observando minha reação diante dos diversos modelos de trancas. Certa vez, com muita dificuldade, consegui fechar um colchete, mas fiquei do lado contrário e voltei para o carro passando por baixo do arame. Imagine a reação dele com minha barbeiragem! Bastava seu olhar para eu saber o que queria dizer.

Do pai provedor para o cúmplice e amigo, muita coisa mudou nos últimos tempos. Sabiamente, a propaganda do Gelol soube antecipar a mudança e antever o modelo ideal dessa nova geração: “Não basta ser pai, tem que participar”.

Comercial Gelol – “Não basta ser pai tem que participar”

Então surgiu o pai que não tem constrangimento em externar o amor através de palavras e gestos carinhosos. O pai que abraça, beija e participa de igual para igual nas atividades diárias dos filhos.

O difícil é saber dosar até onde deve ir a cumplicidade para impor respeito e limites, coisas que muitos filhos dessa nova geração desconhecem, porque não é tarefa fácil a arte de educar.

Enquanto o pêndulo da balança oscila entre disciplina e cumplicidade, educação e participação, provisão e afetividade, vamos aprendendo que cada geração tem sua forma de demonstrar o amor entre pais e filhos e que será mais fácil o filho dizer “eu te amo” para o pai, do que ouvir a frase que é substituída por atitudes.

Vou tentando abrir colchetes e me adaptar: Feliz dia dos pais!


O poder do “Eu te amo” | Marcos Piangers

Acesse também: Tommy nos dias atuais, Crianças à beira-mar e Linhas sobre meu pai.

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6 comments

  1. Já tinha lido ano passado, mas li novamente e vi que é sempre muito bom ler e refletir sobre isso. Essa é a vantagem da crônica, está sempre atual! Obrigada Elzinha por nos presentear com palavras sempre tão sábias e agradáveis de ler.

    1. Oi Cláudia, procuro escrever de forma atemporal, trazendo algumas reflexões. Muito obrigada pelo carinho, beijos.

    1. São várias maneiras de expressar o amor paterno, cada uma a seu tempo. Temos que nos adaptar amigo!

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