Pedal histórico-cultural em Natal – Parte I

Resolvemos fazer um passeio diferente: um pedal no circuito histórico-cultural de Natal, capital do Rio Grande do Norte. Hora do início: 06:00h, porque ciclista acorda cedo. Não, ciclista madruga, literalmente.

Era domingo de eleição e acreditamos que a cidade estaria mais segura, em razão do movimento para o exercício da cidadania na escolha de Prefeito e Vereadores!

O ponto de encontro foi em frente ao Palácio dos Esportes, na Praça Cívica, que já foi Pedro Velho de Albuquerque Maranhão, em homenagem ao ex-Governador do Estado no início da República.

Ciclistas fotografadas pela cronista

A craibeira derramou suas flores sobre o grupo de oito mulheres ciclistas para registro do começo do passeio. Partiu pedal em direção à parte baixa da cidade.

Como na descida todo Santo ajuda, chegamos rapidamente à Ribeira, bairro que margeia o Rio Potengi, em cujo estuário localiza-se a Fortaleza dos Reis Magos, lugar onde se originou a cidade do Natal em 1599, por obra de Jerônimo de Albuquerque.

A primeira parada foi em frente à Igreja de Bom Jesus das Dores. Construída na primeira metade do século XVIII, situa-se na praça Capitão José da Penha, onde também está o edifício onde funcionou o Grande Hotel.

Arrendado pelo Major Theodorico Bezerra ao Governo do Estado, o hotel começou a operar em 1939 e ficou famoso por receber os soldados norte-americanos durante a Segunda Guerra Mundial. Ali também se hospedaram os presidentes Eurico Gaspar Dutra, Juscelino Kubitschek e Getúlio Vargas, além de autoridades militares, artistas e personalidades que visitaram Natal no apogeu da Ribeira como bairro mais importante da cidade.

De lá, as ciclistas seguiram até as Rocas, mais precisamente à antiga Estação Ferroviária Central, no tempo em que o trem era o principal meio de transporte entre os municípios do Estado. Inaugurada pelo Presidente Afonso Pena em 1906, hoje abriga o Departamento Nacional de Combate à Seca – DNOCS.

Antiga Estação Ferroviária Central nas Rocas

Continuamos em direção ao Largo da Rua Chile, cruzando a antiga rua principal do comércio de Natal até o encontro com a Tavares de Lira, quase totalmente abandonada, se não fosse a presença da CODERN, do Terminal Marítimo de Passageiros, de alguns poucos bares fechados pela pandemia, da Natal Pescados – cujo prédio foi restaurado recentemente – e da Produmar.

Largo da Rua Chile na Ribeira

Passamos pelo Sport Club de Natal, que ainda acolhe os praticantes do remo, mas está longe do seu apogeu, quando, em 1952, cinco remadores idealizaram uma façanha inédita e perigosa.

Ricardo da Cruz, Antônio de Souza Dantas, Clodoaldo Bakker, Francisco de Paula Madureira e Oscar Simões Filho partiram de Natal com destino ao Rio de Janeiro na iole Rio Grande do Norte a quatro remos, de bordas mais altas e totalmente reforçada. O sonho foi interrompido na costa de Sergipe. A embarcação naufragou, mas, felizmente, os bravos remadores escaparam.

Persistentes, retomaram o desafio no ano seguinte, na iole Rio Grande do Norte II, exatamente no lugar do naufrágio. A tripulação foi modificada com a substituição dos remadores Clodoaldo e Francisco por Luís Enéas e Walter Fernandes. Em 21 de maio de 1953, os remadores foram recebidos com festa ao completarem a façanha em mais de 100 dias de viagem até a Baía da Guanabara.

Sem tanto preparo físico, mas com disposição para explorar a cidade, as ciclistas pararam no Cais do Porto, recebendo o alerta dos pescadores para não prosseguirem pela Rua Chile ou Dr. Barata, diante da insegurança do local.

O conselho foi acolhido de pronto, não sem antes fotografarmos o prédio em ruínas do antigo Cabaré Arpège, número 161 da Rua Chile, famosa casa de recursos que relata uma série de histórias e estórias referentes a personagens destacados na vida social, no decorrer do seu tempo de atuação.

Ruína do antigo Cabaré Arpège, na Ribeira

Continuamos pela Avenida Duque de Caxias, passando pelo IPHAN (antigo Palacete de Fortunato Aranha), Ateliê Flávio Freitas, Casa do Empresário e JUCERN até chegarmos à praça Augusto Severo. 

Sede do IPHAN – antigo Palacete de Fortunato Aranha, na Ribeira

A praça está fechada para reforma, assim como o Teatro Alberto Maranhão, em restauração há não sei quantos anos, sem previsão para finalização, seguindo os passos lentos e ineficientes do serviço público. Passamos ao largo.

Próximo destino: a Pedra do Rosário, lugar onde a imagem da padroeira de Natal, Nossa Senhora da Apresentação, foi encontrada por pescadores em um caixote de madeira encalhado em umas rochas na margem direita do Rio Potengi.

Imagem de Nossa Senhora da Apresentação na Pedra do Rosário

Antes de enfrentarmos a subida para a Cidade Alta, melhor pararmos um pouco para descanso. Uma pausa para fotos e a continuação no próximo post.

Ciclistas na Pedra do Rosário

Acesse também: Cidade Marinha, Natal, 420 anos, Natal, Hope e SCBEU e Nadando contra a corrente.

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6 comments

  1. Deliciosa leitura de uma não menos deliciosa aventura. Parabéns pela iniciativa!

    1. A bicicleta proporcionando novos olhares. Navegue à vontade no blog, matérias bem diversas e leves para alma. Muito obrigada!

  2. Parabéns pela iniciativa. O Instituto Histórico e Geográfico do RN, apoia iniciativas como essas. Estamos a disposição para ajudar na divulgação.
    Ormuz Barbalho Simonetti, presidente do IHGRN.

    1. Sr. Ormuz, muito obrigada pelo apoio. Pedalando pela cidade com olhar na sua História, torcendo por sua revitalização.

    1. Vamos curtir o patrimônio de nossa cidade e exigir que ela seja mais bem tratada. O pedal permitindo novos resgates. Muito obrigada!

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