(Re)descobrindo Veneza

Há pouco mais de dois anos, decidimos fazer uma viagem feminina em três gerações: minha mãe, eu e minha filha. Na bagagem, uma professora de História da Arte que produz arte contemporânea; uma viajante incansável e curiosa, no caso, a própria cronista; e uma jovem com rosto de adolescente, introspectiva, mas que capta como ninguém as boas dicas de viagem.

Destino: Itália! Chegamos por Milão – ainda sem coronavírus e com muitos turistas –, pegamos um carro (gosto de conhecer os lugares, viajando de carro com a ajuda do GPS ou Google Maps), dormimos perto do aeroporto e no dia seguinte partimos para Veneza.

Queria mostrar a minha filha a cidade inusitada, singular, banhada pela fusão das lagoas com as águas do Mar Adriático; descobrir e redescobrir praças, palácios, igrejas e basílicas (tantos pecados e quantos perdões!) de uma época em que a cidade controlava o comércio com o Oriente, usufruía esse acúmulo de riqueza e não tinha tantos visitantes pisando nas 117 pequenas ilhas que lhe dão forma.

Percorrer e perder-se em ruelas labirínticas. Surpreender-se, sempre, porque Veneza é uma cidade em que as incontáveis pontes lhes despejam em pátios charmosos que ecoam ao menor suspiro de admiração; não é à toa que a Ponte do Suspiro evocava o lamento dos condenados à morte ao avistarem, pela última vez, o Grande Canal.

Canal esse que recebe as águas dos inúmeros canaletos, de tráfego intenso de embarcações, grandes e pequenas, e do famoso Vaporetto que faz às vezes de ônibus na ausência de asfalto. Se quiser um pouco mais de conforto e tiver uma grana extra para gastar, tome um barco/táxi, que lhe levará até o mais próximo possível do seu destino, mas não deixe de fazer um passeio de gôndola, marca registrada de Veneza, com o gondoleiro de camisa listrada sinalizando sua passagem ou entoando clássicos italianos entre as paredes estreitas que fazem ecoar sua voz.

Destinos variados, tendo como ponto central a Piazza San Marcos, com suas galerias e as duas colunas de granito trazidas de Constantinopla na entrada, vindo do Grande Canal. Até meados do século 18, era entre uma coluna e outra que aconteciam as execuções públicas, por isso até hoje os venezianos mais supersticiosos não passam por ali.

Cidade fotogênica, cores terrosas, matizes variados, repleta de arte, porque a riqueza acumulada dos mecenas estimulou bastante a criatividade. Até hoje continua a inspirar as pessoas de olhar atento.

Com tantos turistas em seus espaços, escolhemos o bairro Dorsoduro, onde estão os universitários e as pessoas ligadas à arte, porque lá estão a Gallerie dell’Accademia, com obras-primas clássicas venezianas, e a Coleção Peggy Guggenheim. Tendo a companhia de artista plástica, minha mãe, não poderíamos deixar de visitar essa valiosa coleção de arte contemporânea.

Excêntrica patrona das artes plásticas, Peggy Guggenheim deixou a alta sociedade americana para morar na Europa, em plena efervescência do cenário artístico na década de 1920. Veneza foi a cidade escolhida para viver, onde abrigou seu acervo no museu Palazzo Venier dei Leoni, uma espécie de museu-casa. Aberto ao público desde 1951, recebe milhares de visitantes do mundo todo, para ver obras de Francis Picabia, Georges Braque, Salvador Dalí, Brancusi e Picasso

Se a arte fervilha em Veneza, a gastronomia não fica atrás. Vários restaurantes transbordam os sabores da região do Vêneto. Com tantas ofertas, é preciso ter cuidado na escolha.

Alguns restaurantes reuniram-se em torno da Associazione dei Ristoranti della Buona Accoglienza para utilizar os ingredientes locais, preservando e promovendo a cozinha veneziana. Destacam-se pela qualidade do serviço, pela comida e pela experiência geral, mas também por sua integridade e lealdade a Veneza e à Lagoa. São eles: Al CovoAl Gatto NeroAlle TestiereAntiche CarampaneCorte ScontaDa Ignazio, Fiaschetteria Toscana, Il Nuovo Galeon, Il Ridotto, Vini Da Gigio, Wildner.

Diante de características tão expressivas e beleza própria, certamente Veneza é um destino a ser visitado. A pandemia do coronavírus adormeceu a cidade, que segue recolhida, aguardando o retorno dos visitantes. O mundo torce por seu restabelecimento: Forza Itália! Em breve poderemos percorrer os seus encantos.


Venice in 4K – Around The World 4K

Acesse também: Cinco mulheres e uma viagem, Embarque imediato, Arquitetura na Rioja e Officina della Bistecca.

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6 comments

  1. Lendo sua crônica, Elzinha, bateu vontade de voltar a Veneza! A sensibilidade do seu olhar para os detalhes e o conhecimento que vc nos transmite, nos faz com que sejamos leitoras assíduas de seus escritos!

    1. Leila, Veneza surpreende a cada visita. Muito obrigada pelo comentário. Sigo escrevendo, pesquisando e disponibilizando para os leitores. Beijo carinhoso!

  2. Adorei a crônica, Elzinha, e aprendi ainda mais com a sua experiência. Veneza é, de longe, uma das cidades mais intrigantes e belas que eu já estive. Tenho maravilhosas recordações de lá. Em 2012 fizemos uma viagem também quase toda feminina, não fosse pela presenca indispensável de Fábio, que foi “O homem” da viagem. Fomos eu, minha saudosa mãe, minha irmã, minha sogra e meu marido! Foram momentos de muitas alegrias naquele lugar encantador!

    1. Oi Jananina, tudo bem? Tinha que escrever sobre Veneza, uma cidade fascinante e que encanta, sempre, a cada nova visita. A viagem feminina é diferente, mas a presença de Fábio é uma boa, pelo menos para ajudar com as malas nas inúmeras pontes da cidade, rsrsrs. Obrigada amiga, bj!

  3. Como é prazeroso ler suas crônicas, Elzinha! Além de viajar junto com você , presenteamos nosso olhar com fotos belíssimas, recebemos aula de história sem sentir (rsrsrs) e por fim dicas preciosas que nos fazem querer voltar a Veneza. Adorei!

    1. Oi Mirta! Pois é, fico feliz em dar esse prazer ao leitor. A cabeça cheia de ideias para escrever. Vou seguindo minha sina e compartilhando com vocês as minhas crônicas e lembranças de viagens. Um beijo carinhoso!

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