Serra de São Bento

Conhecemos a região numa competição de ciclismo, em 2010. Meu marido, meu filho e meu cunhado participavam e eu vim de acompanhante – minha vontade incansável de desbravar novas terras. Ficamos apaixonados por essa visão infinita.

Passamos a frequentar o lugar desde então. A estrada de Passa e Fica a Serra de São Bento surpreende a cada curva. E são várias no caminho, subindo e descendo paisagens deslumbrantes.

Quando o verde se instala, então, é overdose de contentamento. Verde novo, vivo verde, babugem nova, folhagem ressuscitada, verde ressurreição. Um grito estridente de verde! Estado de pleno espírito.

Ondulações e mais ondulações serpenteando a visão, criando sombras, refletindo a luz solar. Lajedos sobressaídos, pedras parcialmente encobertas, formações rochosas milenares expostas majestosamente como a Pedra da Boca, situada no município de Araruna/PB.

Pedra da Boca

Gaviões e urubus planando livres ao amanhecer e entardecer. E a vegetação reverberando suas cores. Ipês nativos, catolés, juremas, pau d’arcos, mandacarus, morosas, umbuzeiros, mais raramente, as barrigudas – quase extintas. Todos destacados em meio ao desmatamento das terras para pecuária, cortadas por caminhos e veredas para a passagem do gado.

Na luz do dia, do alto, é possível avistar as cidades e povoados que cintilam com a noite estabelecida. Visão larga, o céu tocando um pedacinho de terra abençoado pelas mãos do criador. Em tempos de chuva ou quando a temperatura cai mais um pouco, a neblina vem descortinar gradativamente a paisagem.

Se optar por caminhar, pedalar ou mesmo utilizar a ajuda do veículo motorizado, descobrirá visuais incríveis. Em cada curva, uma revelação. Rochas em formatos que representam corpos, animais ou tudo que a imaginação for capaz de conceber.

Nas terras agricultáveis, o ocre rasgado pelo plantio, afago na terra, enquanto aguarda a chuva que sustenta a plantação. Cio da terra, propícia estação para fecundar o chão e multiplicar o pão, como diz Milton Nascimento.

São tantas as descobertas, que o tempo em que aqui estou foi insuficiente para conhecer toda a região. A cada novo dia, uma informação de lugar a visitar. E a curiosidade atiçada, agradecendo a Deus grandiosa beleza.


O Cio da terra – Milton Nascimento e Chico Buarque

Debulhar o trigo
Recolher cada bago do trigo
Forjar no trigo o milagre do pão
E se fartar de pão

Decepar a cana
Recolher a garapa da cana
Roubar da cana a doçura do mel,
Se lambuzar de mel

Afagar a terra
Conhecer os desejos da terra
Cio da terra a propícia estação,
E fecundar o chão

Omara Portuondo & Maria Bethânia – O Cio da Terra (Milton Nascimento e Chico Buarque)

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2 comments

  1. Adorei a crônica! Me despertou mais ainda a vontade de conhecer logo a casa da Serra!! Beijos tia Elzinha!

    1. Oi Amanda! A casa está de portas abertas, aguardando a visita de vocês, mas a paisagem fica bem mais bonita quando o verde está instalado. Sua sogra é responsável por construir esse ninho para nossa família e amigos queridos. Beijo grande e venham logo para aproveitarem o verde.

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