Sertão, Seridó, Sentidos

Açude da Fazenda Ingá – Acari/RN

Há sete anos atrás, em 07 de outubro de 2014, a Pinacoteca do Estado (Palácio Potengi), em Natal/RN, abria as portas para o lançamento, noite de autógrafos e abertura da exposição fotográfica do livro “Sertão, Seridó, Sentidos”.

O livro reúne crônicas e fotografias da região do semiárido potiguar; uma verdadeira declaração de amor ao chão de raízes que carrego dentro de mim.

Não esperava tantos amigos reunidos. Foi uma noite fantástica, coberta de carinho daqueles que esperaram pacientemente na fila, enquanto admiravam as fotografias cuidadosamente expostas nas paredes tingidas das cores do sertão.

Para celebrar essa data, compartilho com os leitores, a poesia que deu título ao livro:

SERTÃO, SERIDÓ, SENTIDOS 

Terra cinza, seca e fustigada.
Chão rasgado de desassossego e desesperança.
Tempo inclemente, compasso de espera.
Redemoinho no terreiro, poeira em rodopio.
Olhos lacrimejantes.
Vejo o Sertão.
    
Torreames de nuvens, vento Nordeste, 
prenúncio de chuva, sopro de resistência.
Clarão de relâmpago, estrondo de trovão,
reverberando em serras circundantes.
Pingos de chuva no telhado.
Ouço o Seridó.
    
Água penetra a terra fértil,
exala o mormaço do sol escaldante.
Perfume de vida.
Canto de casaca de couro, fim de tarde abreviado.
Estrume pisoteado no curral.
Cheiro de Seridó.
    
Na cozinha, a lenha trepidante
tempera a memória de infância.
O leite reluta em coalhar,
líquido branco que povoou esse chão.
Coalhada com raspa de rapadura.
Sabor de Sertão. 
    
Bordados sobre a mesa,
traçados por mãos habilidosas.
Colcha de tacos, retalhos de memória.
Algodão puro, de fibra longa,
riqueza perdida, raízes partidas,
Toque de Seridó.
    
Noite escura, sem luar.
Silêncio noturno, canto das águas.
Chuva emendando goteiras.
Tempo complacente, povo temente.
Deus o livre e guarde,
o Sertão.
  
Tempo raro, céu nublado.
Terra ocre, úmida e fecundada.
Chão molhado de esperança, sopro de persistência.
Babugem crescendo, verde nascente.
Vejo o Seridó.
  
Mãos calejadas, passos com pressa.
Vaqueiro encourado, mugido de gado.
Aboio - canto acalanto - ferro e chocalho.
Vozes em prece, graça e louvor,
Ouço o Sertão.
  
Feijão verde, milho verde.
Mesa farta, colheita encerrada, fartura.
Festas sagradas, novena e procissão.
Festas profanas, forró, xote e baião.
Sabor de Sertão.
 
Céu anil, sol inclemente.
Mãos em prece, compasso de espera.
Caatinga desnuda, pedras expostas.
Roupa quarada em lajedo.
Cheiro de Seridó.

Flor de Mulungu, vermelho vida
em galhos sem folhas, resistência.
Em chão de raízes, toco essa terra.
Sertão, Seridó, sentidos... 

Noite de autógrafos do livro “Sertão, Seridó, Sentidos” em 07.10.2014

Oswaldo Lamartine

É que o sertão é mais que uma região fisiográfica. Além da terra, das plantas, dos bichos e do bicho-homem – tem o seu viver, os seus cheiros, cores e ruídos.

Para ler as crônicas do livro, clique aqui: Sertão, Seridó, Sentidos.

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