Verão que finda

lua cheia

Escondida por trás de nuvens de verão – que vai terminando – espreito a terra por venezianas irregulares. Tento, mas não consigo esconder-me totalmente. Revelo-me lentamente, mas meu volume e luminosidade não me permitem a ocultação.

Ilumino uma imensidão de água temperada, facheando um mundo aquático, enquanto minha força faz crescer e recuar a maré até o limite das brancas espumas.

Em terra firme, pontilhões de luzes são incapazes de realçar como eu, mas denunciam a presença do ser humano. Vou seguindo meu trajeto e iluminando a noite, trazendo luz para uma terra sombreada.

Satélite da terra, alimento-me da luz solar e lanço minha influência sobre cabeças, pensantes ou não. Uma vastidão infinita vou desvendando. Faixas de terras às escuras, luzes de cidade serpenteiam, povoados isolados, pequenas vilas, pontos secretos revelados.

Nem bem me recolho, o astro maior reina solitário. Resplandece desde as primeiras luzes do amanhecer. Surge sem qualquer sutileza, expelindo o calor tropical desde as primeiras horas do dia.

Mar e céu azuis
Mar e céu azuis

Sua luminosidade revela um mundo de cores vivas e cintilantes. Céu de anil intenso, raras nuvens, barcos zingrando um mar infinito em tons de verde e azul a depender da profundidade, dos ventos e da areia que toca seu fundo.

Em terra firme, areia branca, coqueirais em balanço, redes de pesca, varandas de redes, banhistas e veranistas. Fim de férias de verão, corpos suados e salgados, amantes esgotados. Ar impregnado de nada a fazer, soprando uma brisa preguiçosamente. Leveza no ar abre a mente para um novo ano.

Em terraços e varandas, o álcool ajudou a libertar ainda mais as conversas. Bebidas variadas, cachaça, caipirinha, vodca, caipirosca, cerveja extremamente gelada para enfrentar o calor. Espumantes e vinhos introduzidos no cardápio e sucos tropicais aproveitaram as frutas da estação, enquanto a música tocava em ritmo quente.

Seriguela – de preferência a avermelhada –, caju travoso, pitomba em excesso que adormece os dentes, cajá, tamarindo, coco verde ou seco, manga rosa, espada, bacuri, manguito, maracujá – fruta da paixão –, mangaba que gruda nos lábios, sapoti, araçá.

O peixe fresco junto ao dendê, frito ou em moqueca, caranguejo ou goiamum, camarão e lagostim, grelhados, no alho e óleo, cozidos no vapor, ensopados de ostra, peixe, sururu, siri mole. Sabores diversos servidos à mesa. Que venham novos verões!


Voa um par de andorinhas, fazendo verão. E vem uma vontade de rasgar velhas cartas, velhos poemas, velhas cartas recebidas. Vontade de mudar de camisa, por fora e por dentro…Vontade…para que esse pudor de certas palavras?…Vontade de amar, simplesmente.
Mario Quintana


Nara Leão – O Barquinho, música de Roberto Menescal/Ronaldo Bôscoli

Leia também

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *