Vidas em caixas

Em dia de arrumação/faxina/desapego, deparei-me com caixas em tamanhos, cores e formatos diversos, que eu guardava pelo simples fato de achá-las bem-feitas e com acabamentos irretocáveis. Poucas tinham alguma serventia, mas continuavam a ocupar um lugar nas minhas coisas.

De repente, lembrei-me de um vídeo que circulou nas redes sociais sobre homens e mulheres viverem em caixas separadas. Estou plenamente de acordo que os universos masculino e feminino são bem diferentes, mas em vários momentos abrem-se em interseção e produzem sentimentos lindos.

Mas não são apenas o homem e a mulher compartimentalizados. Emoções, sentimentos e temperamentos parecem ocupar espaços delimitados, quase imiscíveis em nosso ser.

As caixas não saíram da minha mente e tolheram boas horas do meu sono. Antes que outra noite fosse sacrificada, resolvi transpor para o papel as ideias martelantes, transformando sentimentos em caixas que precisam ser abertas para liberarem seu conteúdo.

Grandes, pequenas, estreitas, largas, acolchoadas, ovais, quadradas, retangulares, até em formato de livro. E eu abrindo cada uma delas. Na grande e estampada, fluía a alegria. Risos disfarçados e logo dissipados, sorrisos tímidos, risadas abertas e, depois, gargalhadas escancaradas.

Naquela caixa escura e estreita, ao invés de abri-la, mantive guardada a tristeza. Mas precisei de mais espaço, o mundo está por demais sobrecarregado de cargas negativas.

Dentre os inúmeros formatos, deparo-me com uma embalagem em formato de livro, aberta por uma fita lateral que revela seu conteúdo. Na vida, algumas pessoas vivem fechadas em seu mundo particular e precisam de um puxão para serem abertas e revelarem todos os sentimentos que estão aprisionados, criando histórias fantásticas.

A vermelha pode significar amor ou ódio, sentimentos antagônicos que, se misturados, podem produzir emoções explosivas. Da mesma forma, encontramos lágrimas de tantos risos, gargalhadas que provocam dores, choros de alegria, explosões de fúria que se transformam em risadas esparramadas.

E os sentimentos, emoções e sensações fluindo livre, espalhando-se e mixando-se ao oxigênio de cada dia.


Jason Mraz – I’m Yours

Acesse também: Porteiras do tempo, Tempo sem se perder de si, Dê um spoiler em sua vida e Nadando contra a corrente.

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4 comments

  1. Quando abrimos as nossas caixas, a paz entra na nossa alma

  2. Encaixotadas ou não, as emoções vão se misturando e seguimos à vida!!
    Obrigada por mais um bom texto ,sempre acompanhado de uma linda foto.

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