(…) Aos cafus, uma rodada de coalhada, adoçada com raspas de rapadura, encerrava o dia. O silêncio da escuridão era quebrado, ora pelo chocalho do gado, ora pelo pio da coruja. Era um momento revelador de quanto o homem rural estava interligado à natureza e de quanto o progresso iria distanciá-lo de suas origens. À medida que o mês de dezembro se desenrolava, mais ansiosos ficavam os seridoenses. Os sentidos […]
No Rastro das Águas – Capítulo 3
Já se passavam três meses desde o nascimento. A vida transcorria normalmente na fazenda. Sem energia elétrica, o sol encarregava-se de determinar o horário das tarefas diárias. Acordava-se bem cedo. Às três horas da manhã, o silêncio da madrugada era quebrado pelos primeiros mugidos dos bezerros que clamavam por um pouco de leite, não sem antes escutarem o galo que desde a uma hora da madrugada fazia seu primeiro canto […]
No Rastro das Águas – Capítulo 2
Há dias, Ritinha vinha sentindo algo diferente, porém não sabia se era o peso da barriga ou a aproximação do momento tão esperado, já que por suas contas não chegaria à segunda quinzena de agosto. As últimas providências tinham sido tomadas: o enxoval estava lavado, passado, desinfetado no braseiro com alfazema, guardado no baú junto à cama, deixando um cheiro agradável no quarto. A parteira estava de sobreaviso e as […]
No Rastro das Águas – Capítulo 1
PARTE UM: ENTERRANDO O UMBIGO NO MOURÃO DA PORTEIRA (1908-1935) Faíscas saltavam das brasas; labaredas eram atiçadas ao abano; a lenha estalava espalhando cinzas ao redor do fogão; terrinas eram trocadas num vai-e-vem ligeiro, que refletia a agitação da casa da fazenda. Não era pra menos, o primeiro filho de Antônio Bezerra estava a caminho. Ritinha esforçava-se, com a ajuda da parteira, para dar à luz a seu primogênito. Por […]