Caju

Aécio Augusto Emerenciano, 2008 | Cajus e abacaxi

Nos escritos antigos, leio referências aos frutos silvestres presentes em Natal do início do século XX: caju, guabiraba, camboim, ubaia, guagiru, murta. Desconheço o sabor de todos, exceto o caju, até hoje presente em nossas terras – a noz que se produz, na tradução do tupi-guarani.

Inspirada no aprendizado indígena, debaixo dos cajueiros, pegando bicho-de-pé, numa trempe improvisada, fogo aquecendo latas velhas, as castanhas eram torradas e quebradas com pedras, para serem saboreadas ali mesmo. Dedos tisnados na memória da infância.

Seu fruto é uma oleaginosa nutritiva. O pseudofruto, de pele macia e polpa carnuda, pode ser doce ou travoso e exala cheiro em fartura. Seu sumo deixa nódoa; seu sabor, vestígios na garganta – nada melhor para tirar o gosto da cachaça rascante.

A chuva que antecede o verão recebeu o seu nome, irrigando o cajueiro para uma safra fecunda, inspirando poetas e pintores. Em terras potiguares, Aécio Emerenciano é seu embaixador. Outros também saborearam as suas cores nas telas.

Pensando nisso, a Editora da UFRN e a Pinacoteca do Estado do Rio Grande do Norte, sob a curadoria de Angela Almeida, Rafael Sordi Campos e João Natal, idealizaram a exposição “Caju”.

O caju como tema principal dos trabalhos dos artistas plásticos Aécio Augusto Emerenciano, Aldenor Prateiro, Angela Almeida, Angélica Martins, Caroline Santos, Carlos Humberto Dantas, Carlos Sérgio Borges, Cristina Lunardi, Dorian Gray Caldas, Erasmo Andrade, Francisco Eduardo, Gilmar Paulo da Silva, Gustavo Sobral, Jayr Peny, Jadson Lima, Jefferson Campos, João Natal, Lucas Viegas, Márcia Bessa, Marcos Paulo, Maria do Santíssimo, Max Pereira, Mônica Costa, Newton Navarro, Rafael Campos, Rayron Montielly, Rossini Perez, Selma Bezerra, Sofia Bauchwitz, Soraya Delúzia, Sun Sarara, Túlio Fernandes e Vatenor Oliveira.

A abertura será no sábado (09/12/2023), na Pinacoteca do Estado do RN, às 9h e a exposição ficará em cartaz até março/2024. Vale a pena conferir!


Jorge Fernandes

“O mistério sombrio dos sítios cheios de cajueiros carregados de cajus todos virgulados de castanha…

Mário de Andrade, em O Turista Aprendiz, 1928

“Mas agora de tardinha o caju se prefere por si mesmo. Não só de tarde aliás… Até a hora clássica do caju é no banho do rio onde a nódoa não é possível. Porém o que me parece imprescindível mesmo é o golpe de caninha para rebater… O caju é doce, é alimentício, medicinal e possui o gosto caju, coisa indescritível e unicamente compreendida por quem conhece o caju de vias de fato.”


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