Tome assento

Acocorada, simulando ordenhar uma bezerra segurada por Tonico, em meio à infância nos currais da Cacimba do Meio, fomos fotografados por papai.

A foto deve ser do início dos anos 70, bem depois de Sérgio Rodrigues idealizar o banco “Mocho” em 1954, inspirado no banquinho das leiteiras e alimentado na cultura popular brasileira.

Os anos correram ligeiros, mas na minha cozinha da serra, sobre os ladrilhos das antigas casas de fazenda, os tamboretes ainda dão sentar ao redor da mesa. Pés de madeira e a habilidade do mestre sertanejo no manuseio do couro trabalhado do assento.

Na sala da frente, cem pernas vermelhas causam admiração a quem entra. Centopeia – o banco do estúdio Mula Preta – imprime um toque moderno e irreverente ao ambiente. Vez por outra, o invertebrado que inspirou o objeto causa espanto aos visitantes da casa.

Banco Centopeia – foto do estúdio Mula Preta
Banquinho Xaxado – foto do estúdio Mula Preta

Na nova coleção do estúdio de design, Felipe Bezerra e André Gurgel trazem o ritmo nordestino para o banquinho “Xaxado”. Os pés cruzados e os detalhes em couro ferram a marca de quem carrega o sertão dentro de si. A edição especial tem a participação do Mestre Espedito Seleiro.

Do lado de fora, junto à porta principal, a parede branca e a luminária de ferro encandeiam os insetos noturnos, enquanto o banco rústico da jaqueira centenária, que sucumbiu ao peso dos frutos e do tempo, convida a entrar.

Peça do mobiliário que resgata o passado, perpetua o hábito secular de sentar-se no alpendre, para avistar quem se aproxima, jogar palavras (in)úteis ao vento, matutar o presente ou sonhar o futuro.

O banco está em toda parte. Desde que o ser humano evoluiu do acocorar-se para o sentar-se, esta importante peça do mobiliário incorporou-se ao cotidiano do habitar.

Há quem prefira com encosto, para aliviar a coluna cansada da lida. Aliás, um bom encosto ajuda a relaxar e esticar a conversa. Em contraponto, no banco solitário de frente para as ondulações de cores e relevo da serra aprende-se a ouvir o silêncio. Silêncio cúmplice no inspirar a natureza e expirar as boas energias do lugar.

Não se acanhe, tome assento!


Ed Sheeran – Castle On The Hill (Nicole Cross Official Cover Video)

Acesse também: A irreverência do estúdio Mula Preta, Mestre Espedito Seleiro, Memória afetiva e um toque cultural, Aconchego.

Leia também

4 comments

    1. Muito obrigada Nildinha! Nossas origens, nosso sentar, nosso apascentar! Bj.

  1. Crônica que remete qualquer nordestino ao passado, sem olvidar do presente. Um bom banquinho é atemporal(ao menos por essas bandas).👏👏

    1. O nordestino que se preza, tem que ter um tamborete para começar, rsrsrs, depois vem os outros modelos e funções!😉👍🏼

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *