Lusco-fusco relaxante

Quem é dona(o) de casa de praia no Nordeste, em época de veraneio, sabe o stress de abastecer a despensa com todos os mantimentos, variadas opções de tira-gosto, bebidas e tudo o mais para visitas previstas e imprevistas e farras improvisadas. É um tal de comprar, beber, comer e reabastecer sem fim.

Pois bem, depois de um dia estafante para elaborar cardápio, checar o que tem e o que não tem disponível e comprar o necessário, a pessoa está esgotada. Resultado do movimento de tirar produto de prateleira de supermercado, colocar no carrinho, tirar do carrinho e colocar na esteira do caixa, recolocar no carrinho até o automóvel, retirar novamente para o porta-malas e, ao chegar no edifício, retirar as compras e coloca-las no carrinho e leva-las para cima. Retirar novamente do carrinho e arrumar na despensa.

Não sei como o ser humano é capaz de criar tantas invenções para facilitar a vida, mas é totalmente incompetente para reduzir essas etapas repetitivas no supermercado!

Após separar o que era para levar para casa de praia, encher o carro com uma despensa robusta e percorrer os trinta e dois quilômetros de distância, chego ao paraíso. O sacrifício valeu à pena!

Deparei-me com um fim de tarde espetacular. A baixa-mar soava calma, incessante, mas quase silente. Os veranistas aproveitavam para uma caminhada prazerosa, produzindo silhuetas diversas à beira-mar.

Eu preferi escutar minha nova playlist de jazz/blue, tomar uma taça de vinho e, feito mimetismo, misturar-me às cores e sons do entardecer. No lusco-fusco, nada se destaca. Natureza e seres humanos mixados em uma única tela abençoada por Deus.

Matizes suaves dos reflexos do sol reproduzidos na areia molhada. Nuvens de um rosa pálido relaxante, palhas dos coqueiros num farfalhar hipnótico, uma rede arrastada em vão – os peixes recolheram-se mais cedo –, barcos ancorados balançando repetidamente, ninando a noite que se anuncia.

Nada de pressa, nada de stress. Esqueci rápido e completamente as compras do veraneio. Vontade de congelar o tempo, enquanto Louis Armstrong entoa deliciosamente sua voz incomparável em “What a Wonderful World”.

Louis Armstrong – What a wonderful world

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10 comments

  1. Elzinha que prazer ler as suas crônicas,me senti naquele paraíso Porto Mirim saboreando uma taça de vinho branco bem gelado e apreciando um lindo por do sol.

  2. Que delícia de texto! Consegui me transportar e sentir a atmosfera de Porto Mirim
    Será minha leitura obrigatória

    1. Kyvia, aquele lugar é privilegiado, bate sempre uma inspiração! Conto com você.

  3. Texto impecável, Elzinha!Você acaba de ganhar um fiel visitante do seu blog. Parabéns, de verdade!

    1. Muito obrigada Marcelo! Mantenha sempre a fidelidade, vou tentar corresponder às expectativas.

  4. Despertei com o toque de aviso da sua mensagem e fui recompensada com o seu texto verdadeiro das suas tarefas de dona de casa, prazeroso ao se deleitar com sua taça de vinho ao som do jazz/blue da sua preferência e sensível ao apreciar a natureza pródiga!!!

    1. Oi Tia! Desculpe o despertar antecipado, continue a navegar nas crônicas e obrigada pelas palavras de incentivo. Bjs

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