Viagem no tempo

Comecei cedo a adquirir o gosto por viajar. Mal me lembro, fazia com frequência o caminho entre a cidade e a fazenda dos meus avós. Ainda pequenina, a estrada de barro e os solavancos do carro provocavam-me sérios enjoos. Continuei com problemas no labirinto até a fase adulta, mas agora só evito passeios marítimos em águas agitadas.

Aos onze anos, papai me presentou com uma excursão ao exterior, quando não havia esse fluxo crescente de viajantes mundo à fora e a viagem de avião era um acontecimento.

Os aeroportos recebiam uma comitiva familiar do viajante para embarca-lo ou recebe-lo, todos com direito à visão panorâmica das decolagens e aterrisagens.

Filas para check-in e embarque quase não existiam. Atropelos, então, nem se fala. Na aeronave, o serviço era impecável. Nada de louças ou talheres de plásticos, muito menos pagar por comidas plastificadas. Aeromoças e comissários em uniformes e educação impecáveis atendiam aos passageiros, todos muito bem vestidos para a ocasião.

Treinávamos nossa paciência de outra forma. Os celulares e câmeras digitais eram inexistentes. Registrávamos nossos momentos em câmeras analógicas, portando rolos de filmes que muitas vezes eram insuficientes para tantas fotografias. Tínhamos que aguardar a revelação Fuji ou Kodak, sem direito a apagar as fotos indesejadas. Escolhíamos as asas do filme mais adequadas ao programa – 100 era a mais comum e 400 uma exceção. Quando a ansiedade era insuportável, pagávamos por revelações mais caras, ainda no curso da viagem.

E a curiosidade era bem mais excitante. Quando viajávamos para um destino, não tínhamos qualquer conhecimento prévio do que iríamos encontrar, exceto pelas capturas de cartões postais, que serviam também para darmos notícias aos familiares. Hoje, perdemos parcialmente o encanto da descoberta, porque o Street View do Google Maps, por exemplo, já nos permite visualizar antecipadamente toda uma cidade.

Telefonemas eram escassos em razão do alto custo nos hotéis. Nada de WhastApp e mensagens instantâneas, comprávamos fichas para operar os orelhões de rua – a utilização diretamente com moedinhas já foi um avanço. O relato da viagem era feito em pequenos diários e muitas vezes os familiares e amigos eram reunidos, pós viagem, para assistir a infindáveis exposições de slides.

E assim seguíamos nossos roteiros. O tempo foi passando e os avanços tecnológicos encurtaram as distâncias, mas não diminuíram minha vontade de viajar. Continuo encantada em descobrir horizontes para mim desconhecidos.

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4 comments

  1. Viva Elza! Viajologia, esse é um curso que todos deveriam fazer, como sagitariano sou suspeito para comentários….

    1. Concordo plenamente, mas sabendo extrair da viagem todos os seus ensinamentos.

  2. Parabéns. Me delicio com cada texto, viajo no tempo e me transporto .
    Obrigada por compartilhar

    1. Iris, fico feliz em transmitir boas sensações ao leitor. Muito obrigada!

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