Turismo em posts

Florença

Certo dia li na coluna de Zeca Camargo o artigo Veni, Vidi, Troli, publicado na Folha de São Paulo, no qual o jornalista viajante relatava sua tristeza ao constatar que as ricas experiências de viagens são reduzidas a piadas em redes sociais. No caso, o menosprezo com a monumental estátua de David de Michelangelo em Florença, símbolo da Renascença.

Chego à aula de francês e o tema é turismo. A professora indaga se os alunos costumam pesquisar sobre os destinos escolhidos para as próximas viagens de acordo com o interesse individual. Na classe, a resposta é positiva.

Ela fica surpresa, porque a posição dos alunos vai de encontro à constatação atual sobre a quantidade de turistas que viajam mundo afora apenas para posar para fotos e compartilhá-las nas redes sociais, sem qualquer conhecimento dos acontecimentos históricos que revolucionaram o mundo, o valor arquitetônico ou artístico das obras que foram penosamente preservadas para gerações futuras. Tudo em nome de milésimos segundos de “fama”.

Dei um giro pela Europa aos meus quinze anos. Abdiquei de celebrar a data numa discoteca, mesmo depois do grande sucesso da novela Dancing Days, com Sônia Braga soltando suas feras na pista de dança de sandália alta e meia lurex colorida, que virou moda então.

Aluna fascinada por História, voltei encantada pelo Velho Mundo, pelas visitas que fiz a castelos, palácios, igrejas e museus, sem falar nas paisagens naturais e no respeito que cada povo tem à sua contribuição para o desenvolvimento da humanidade. Foi uma experiência que me rendeu frutos para o resto da vida.

O turismo massificou-se. Antes era possível percorrer palácios e castelos, registrar na memória cada detalhe das construções, admirar uma obra de arte sem multidões à volta (hoje, impossível enxergar a Mona Lisa de Leonardo da Vinci no Louvre, exceto em tour organizado pelo próprio museu em horários especiais).

Não existiam as filas quilométricas da atualidade. As ruas eram ocupadas por moradores locais e sem excesso de turistas, havia bastante espaço para um passeio descontraído, curtia-se com tranquilidade uma música tocada na esquina, um deleite para o corpo e a mente.

Atualmente, prefiro visitar cidades menores, pequenas vilas, aldeias e povoados que mantêm tradições milenares e, principalmente, o sabor peculiar da gastronomia feita com produtos locais. Nas cidades grandes, apuro o paladar nas invenções gourmets (nem sempre me dou bem, mas experimento tudo o que é novo ou desconhecido para mim).

Na contramão do turismo em posts, descubro termos linguísticos especialmente designados para os amantes de viagens que se aprofundam na cultura local e têm uma sede insaciável por desvendar o planeta. Que eles se espalhem pelo mundo!


Post Scriptum: A Galleria dell’Accademia di Firenzi disponibiliza no seu próprio site a oportunidade de o turista fazer uma selfie com a estátua David de Michelangelo.


Dica: pesquise, estude, invista no conhecimento prévio dos seus destinos turísticos. Se não for possível, contrate um bom guia local. Sua experiência sairá bastante enriquecida.


Aquarela – Música de Vinicius de Moraes, Toquinho, Guido Morra, Maurizio Fabrizio

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4 comments

  1. Elzinha, adorando tudo, leitura maravilhosa, vivendo a alegria de viajar nos seus escritos. Parabéns 👏👏👏👏👏👏😘…

    1. Oi Regina, muito obrigada. Continue firme na viagem e divulgue à vontade. Bjs.

  2. Oi Elzinha, estou adorando seu site.
    Leitura fácil e de um tamanho que nos deixa com gostinho de quero mais.
    Hoje em dia as pessoas só se importam com o MM, Moda e Mídia, vão pra onde está na moda pra mostrar na mídia das redes sociais.
    Esse me fez lembrar o fatídico Cracco, muito famoso mas que de bom não tinha nada…rs

    1. Oi Henrique! Que bom que gostou, estava cheia de tanta notícia ruim, necessitando compartilhar boas sensações. Aquela experiência “gastronômica” já está na minha lista para uma boa crônica. Aguarde…

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