Olhar inverso

Exposição Gold – Mina de Ouro Serra Pelada – de Sebastião Salgado.

Caminhava sem saber ao certo onde ia parar. Seguia o fluxo de gente, procurando o número indicativo do lugar. Cheguei, entrei e subi até o quinto andar. Gold! Mina de Ouro. Parei ali minha procura, no topo da Serra Pelada, Pará.

Uma sala escura, focos em lugares estratégicos, cinquenta e seis fotografias a preto e branco. Cinquenta mil homens em busca do ouro salvador. O metal precioso embalando sonhos, coragem, luxúria, salvação ou redenção. Tudo fotografado, em 1986, pelas lentes e o olhar de Sebastião Salgado.

Em plena efervescência da corrida do ouro em Serra Pelada, anos 80, um morro na Amazônia paraense sendo escavado, sugado, devorado por corpos suados e enlameados, escalando escadas improvisadas, com sacos de terra nas costas, apostando a vida no formigueiro humano. Um morro que virou cratera e terminou lago.

Gold – Mina de Ouro Serra Pelada – foto de Sebastião Salgado
Gold – Mina de Ouro Serra Pelada – foto de Sebastião Salgado
Gold – Mina de Ouro Serra Pelada – foto de Sebastião Salgado

O trabalho do fotógrafo mineiro Sebastião Salgado, reconhecido e premiado internacionalmente, diante dos meus olhos, em fotos gigantes, que não perderam a resolução. Aliás, não lhe faltam cores, sobram-lhes texturas. Um mundo em branco e preto, revelado pela intensidade da luz. Fotografia é essencialmente luz.

E eu ali, com o olhar inverso de quem tem o retângulo na mão, tentando captar o que ele quis dizer por meio das imagens. O olhar de uma terceira pessoa, não aquela que está sendo fotografada, não aquela que enquadra a cena, mas a que tenta enxergar a mensagem e contempla a beleza da composição.

As fotos revelam a preocupação de Salgado em documentar a complexa relação do homem com a natureza em busca da sobrevivência. Induzem à reflexão. Provocam, instigam, martelam, feito as picaretas que escavacaram aquele chão.

Gold – Mina de Ouro Serra Pelada – foto de Sebastião Salgado

A exposição Gold – Mina de Ouro Serra Pelada fica em cartaz no SESC Avenida Paulista de 17 de julho a 03 de novembro de 2019.
Endereço: Avenida Paulista, 119 – 5º andar – Bela Vista – São Paulo/SP


Avenida Paulista

Não é mar
de água.
É mar de gente.

Altas, gordas,
magras, baixas,
sérias, plurais.

Todas as cores
miscigenadas.
Todas, gente.

Sem classificação,
apenas gente.


Documentário Serra Pelada – Sabadão Cultural

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6 comments

  1. Privilégio poder constatar de perto uma preciosidade desse quilate, o trabalho de Sebastião.
    Parabéns pelo texto e experiência Elzinha!!

    1. Bebeto, vale à visita para quem está em São Paulo. Um belíssimo resgate da história do Brasil em fotografias impactantes. Obrigada!

  2. Mais um texto brilhante, onde vc descreve o fato em si(exposição) e a sua emoção. Nos deixando também emocionados e curiosos.

    1. É amiga, fico inspirada quando algo me toca fundo. A exposição merece ser vista por todos. Obrigada

  3. Maravilha, Elza!! Não bastasse o texto maravilhoso, que nos transporta para o local descrito, vc ainda nos dá uma dica para apreciar uma exposição sensacional!! 😘😘👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻

    1. Oi Mirtinha! A exposição é impactante. Não tinha ideia do tamanho do formigueiro humano em Serra Pelada. As fotos de Sebastião Salgado são reveladoras. Muito obrigada. Beijo

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