Chão dos simples

Lá do oco do mundo, circundado pela grande serra azul e distante, Manoel Onofre de Souza Júnior – o imortal contador de histórias – apresenta-nos personagens típicos do imaginário sertanejo.

Gente entrançando em palavras bem traçadas, um rebuliço só. Tem aquele muito ancho, outros de mão abanando, a sinha sonsa, tem quem abra imbuança, aquele que remancha, o amarrotado, a espevitada, a desembestada, o feio que só a peste, a mostradeira, o que vive enchendo a cara.

No calor medonho, sob a sombra do pé de fícus, no pino do meidia, as estórias se desenrolam enquanto a tarde vadia. À noite, a debulha do feijão no alpendre para jogar conversa fora, depois que o sol descamba no céu e antes de a cruviana chegar.

“Chão de Simples” é uma verdadeira obra de arte que conquistou um espaço na galeria dos bons livros de ficção de nossa terra, como dito por Veríssimo de Melo na apresentação da segunda edição.

Em 2023, a obra literária vai se reunir às artes visuais. Para celebrar os 40 anos da primeira edição do livro e os 80 anos do escritor Manoel Onofre de Souza Júnior, seu sobrinho, Manoel Onofre Neto, e Angela Almeida organizaram a exposição “Chão de Simples”, na Pinacoteca do Estado do Rio Grande do Norte – uma coletiva de grandes artistas potiguares.


A exposição “Chão de Simples”

O livro “Chão dos Simples” apresenta na tessitura do texto fios que nos conduzem a travessias dos sertões da ficção e da realidade, do fantástico e mí(s)tico, que traduzem a resistência e vivência de um povo; os cheiros e sabores de lugares que igualmente constroem a trama de vida do escritor, que, com a simplicidade, remete-nos a tempos de sua infância.

A primeira edição do livro completou quarenta anos, nasceu exatamente em 1983. Já foram lançadas quatro edições, recebidas com críticas e declarações efusivas. Também foi adaptado para o teatro pelo artista e diretor Lenício Queiroga (1951-2009) e encenado no Alberto Maranhão. Recebeu, ainda, roteiro para filme pelo cineasta Rui Lopes.

Essa obra multifacetada chega agora em formato de exposição, propondo um encontro da literatura com as artes visuais potiguares. O entrelaçamento entre as narrativas dos contos e as obras dos artistas é proposto como mediador do nosso desejo, enquanto curadores, de tocar no âmago das poéticas e, quiçá, transformar cada fio em novas tessituras, que transcendem para imagens e memórias; e que também possibilite o nascimento de discursos possíveis, cerzidos com lugares de vida e de afeto.

As obras que compõem a exposição foram divididas entre as imaginadas e materializadas, a partir de um conto do livro; e aquelas já existentes, que foram selecionadas com a intenção de criar outros enlaces entre a arte e a literatura. Traçamos, ainda, possibilidades de percursos entre palavras e imagens carregadas de simbologias ou de potências entre o local e o universal. Assim, desejamos que cada visitante tenha a possibilidade de pisar no seu próprio “chão dos simples” e ao mesmo tempo viajar na constelação de mundos imaginários e (im)possíveis.

O escritor Manoel Onofre de Souza Júnior convida para exposição “Chão dos Simples”
Meu exemplar, devidamente autografado em 1998.

Exposição: “Chão de Simples”

Local: Pinacoteca do Estado do Rio Grande do Norte – Palácio Potengi

De 22 de julho de 2023 a 06 de agosto de 2023


Acesse também: Moderno… pra contemplação dos olhos de hoje; Portinari para todos, Múltiplas.

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4 comments

  1. Sempre grata por suas dicas culturais e a divulgação/valorização dos artistas locais.

    1. Elinha, temos que valorizar e divulgar nossos artistas. Nesse chão de Poti, que tão pouco valoriza a cultura em geral.

  2. Os seus textos simples e entrelaçados me encantam cada dia mais , Elzinha. Nos últimos dias, cansada da minha tristeza , reli Múltiplas e foi um consolo para a minha alma angustiada de saudade dos meus irmãos e sobrinho . Obrigada por tanto ! Beijos

    1. Oi Ione, grata por ter essa seguidora fiel e assídua. O tempo é o senhor da razão para acalmar o coração. Muito obrigada, beijos!

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