Fim de Carnaval

Dormia tranquila numa praia que não sabe o que é Carnaval, a não ser como um bom local de descanso.

O cochilo da tarde foi interrompido pela algazarra. O barulho espremido entre a rua estreita que separa um restaurante silenciado e uma casa de veraneio ecoando na beira-mar, com preamar que encobriu a faixa de areia da praia.

Um, dois, três, quatro adultos.., um, dois, três, quatro adolescentes…, uma, duas, três, quatro, cinco, seis, sete, oito crianças…, um, dois bebês de colo… e, por fim (para não fugir da regra atual), o membro mais importante da família: o cachorro. Todos aglomerados em dois carros modelo Spin, de seis e sete lugares, respectivamente.

Se usam ou não Rexona, não sei dizer, mas o espaço interno do carro fez a proeza de acomodar a todos numa segunda-feira de Carnaval, feriado do comerciário.

Maré de lua nova, tranquilizada pela ausência de vento. Algumas crianças vestiam camisas de mangas compridas com proteção solar, desnecessária para aquela tarde nublada, quase chuvosa.

O sol se escondeu mais cedo. A água estava translúcida e a alegria do banho de mar fez ecoar os gritos incontidos, de vez em quando abafados pelo estrondo das ondas.

O latido agudo e insistente do cachorro chamando seu dono para sair da água me despertou da letargia. Antes de a noite cair em definitivo, o grupo ensaiou um rápido futebol improvisado e uma coreografia de dancinha carnavalesca.

Depois de refrescados do calor sufocante de dia abafado, retornaram para os carros e partiram. O silêncio voltou a reinar, exceto pelo som incessante e calmante das ondas do mar.

Aproveitando os restos de dia, um casal apaixonado, bem agarradinho, sacolejava ao sabor da maré.

Os passarinhos voltaram aos seus ninhos e eu registrando o final de uma tarde de Carnaval. Nas redes sociais, a efervescência dos dias de folia em registros efêmeros. Em minoria, a opção por recarregar as baterias na paz – cada um aproveita como quer os dias de reinado de Momo.

Quarta-feira de Cinzas, o retorno à realidade. Fim de uma temporada e início do ano em terras brasileiras.


Todo carnaval tem seu fim – Maria Rita

Leia também: Canto do mar, Frida Kahlo, Banksy, surpresas e mistérios, Carta ao Ipê, Doce português com pitada sertaneja.

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2 comments

  1. Nunca mais teremos uma Muriú como no carnaval da década de 1960.

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