Natal, 420 anos

A cidade de Rouen, na França, implementou um projeto bem original no seu centro histórico: o controle de velocidade para pedestre. A velocidade máxima permitida é de 3km/h; se ultrapassá-la, um flash de advertência é acionado. Objetivo do alerta: diminuir a velocidade do passante e conceder-lhe tempo para observar as construções que compõem o seu patrimônio. Tomar um tempo para observar a vida diferentemente.

Hoje a minha cidade completa 420 anos. Nascida pelas mãos de Jerônimo de Albuquerque Maranhão em 25 de dezembro de 1599, às margens do Potengi, Natal vê seus prédios históricos abandonados na Ribeira do nosso rio. A fortaleza do Rio Grande, que lhe deu proteção, fechada para uma reforma a passos lentos.

Nem precisamos de placas de advertência, a ação do tempo e o descaso de quem deveria cuidar estancaram-lhe a velocidade. Em muitos pontos, a cidade apresenta-se totalmente parada, abandonada, inerte, esperando alguém lhe chacoalhar, fazê-la renascer, retomar o seu lugar de destaque como ponto estratégico mundial e acolhedora dos que aqui vivem e daqueles que resolvem aportar.

Hoje é o dia oficial do nascimento de Jesus Cristo. A cidade acordou de ressaca das comemorações da véspera, tradição que se mantém até os dias de hoje. Noite de Natal é celebrada no dia 24. Dia de presentear, confraternizar-se, partilhar a ceia, virar caridoso, trocar telefonemas por mensagens de WhatsApp, congestionar as redes sociais com fotografias de famílias, amigos, amores. Modo atual de se fazer presente em qualquer lugar do mundo.

Das várias mensagens recebidas, uma chamou-me a atenção, escrita em idioma estrangeiro, enviada por minha Tia. Mesmo sem dominar o espanhol, arrisco uma tradução: “Estive pensando que poderia desejar às mulheres que estão em minha vida, além de bênçãos, saúde e alegria… desejar-lhes tranquilidade e noites bem dormidas. Jornais com boas notícias e projetos de Paz. Desejo-lhes muitos cafezinhos em boa companhia, livros bem lidos e trabalhos bem feitos. Que as idas às farmácias sejam por cosméticos e não por medicamentos, e aos supermercados por chocolate e não por dietas… Quero que sejam amadas, queridas e respeitadas. Que os homens de suas vidas lhes borrem o batom e não o rímel. Desejo-lhe tantas coisas: boas mamografias, bons exames médicos, que se necessitar de injeções, que sejam de ácido hialurônico e não de antibióticos. Que nada lhes faça chorar e que cantem bem fortes quando dirigem no carro sozinhas… Que tenham um ano com férias, passeios e escapadas. Que não lhes falte nada e que não lhes tirem nada… Desejo-lhes risos e gargalhadas, dessas que fazem chorar… Risadas que afugentam medos e removem rugas… Desejo-lhes mel em suas insônias, mel para os goles amargos, muitos êxitos e saúde durante todo o próximo 2020.

Com um olhar diferente, adaptei a mensagem à cidade de Natal, feminina por essência na capacidade de reproduzir seus belos cenários. Quero ver-te querida, amada e respeitada. Tranquila e segura, para os insones da boemia, enquanto os diurnos repousam no sono merecido. Que os jornais estampem coisas belas e projetos de paz, para que possamos usufruir tranquilamente o cafezinho e o bate-papo do final da tarde em nossas calçadas. Que a educação permita ler bons livros e fazer trabalhos bem feitos. Que as inúmeras farmácias que pipocam em cada esquina vendam apenas produtos de embelezar a alma, que não necessitemos tanto de tantos medicamentos. Que o sol realce suas cores vivas, no lugar dos esgotos escorrendo por nossas ruas. Que o trânsito flua, deixando a música sair forte de nossas gargantas. Que esteja sempre linda para os daqui e os turistas que vêm nos visitar. Que não lhe falte nada e que não lhe tirem nada. Que me faça chorar de orgulho e gargalhar de felicidade. Que o Potengi abrace diariamente o Sol, como o mel que lambuza os doces sonhos.

Saltando os sonhos

Façamos cada um a nossa parte para transformar o sonho em realidade de renascer a nossa cidade Natal, forte, linda e feliz no Novo Ano.


Natal, Brasil – por Silvio Bezerra

Acesse também: Cidade marinha, Verão em terras potiguares e Pedal histórico-cultural em Natal – Parte I.

Leia também

6 comments

  1. Bravo para os 2 textos(seu e de sua tia).
    👏👏👏
    Uma pena que moramos em uma cidade onde não se valoriza nada de sua história, onde famílias derrubam os prédios em troca de recompensa financeira,onde o belo são dos outros estados, e o pouco que se tenta fazer se perde no caminho.
    Quando viajamos ficamos encantados com mínimas coisas e em nossa própria cidade nem sabemos que existe.
    Muito para evoluir e prosperar.
    Mas repito, bravo para seu olhar poético.

    1. Oi Elinha! Precisamos fazer muito por nossa cidade e nossa história, para reencontrarmos o caminho de uma Natal de orgulho e encanto. O texto é um alerta como o flash de Rouen. Obrigada amiga!

    2. Muito bom os dois textos, Realmente a muito que nosso estado não tem governantes que façam algo de bom, digo pelo menos as necessidades básicas para população, educação, saúde, segurança e cultura. Nós potiguares somos privilegiados por termos essa maravilha de cidade, obrigada pela suas crônicas e um feliz ano novo!! Beijo Elzinha😘✨

      1. Oi Clarissa, muito obrigada por fazer crescer o apelo para os nossos governantes. Vamos todos trabalhar por uma cidade digna de se viver. Feliz 2020😘😘😘🙌🙌🙌

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *